“Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada
coisa...
Solidão é uma ilha com saudade do barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de
novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta
um capítulo.
(...)
Angústia é um nós muito apertado bem no meio do seu sossego.
(...)
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que deveria
querer outra coisa.
(...)
Intuição é quando o seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
(...)
Vaidade é um espelho em todos os lugares ao mesmo tempo.
(...)
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum
recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta o seu coração.
Alegria é um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros
outros.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
(...)
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Beijo é um carimbo que serve para mostrar que a gente gosta daquilo.
Gostar é quando acontece uma festa no seu peito.
Amor é um gostar que não diminui de um aniversário pro outros.
Não. Amor é um exagero...
Também não. É um desadoro...
Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um
destempero, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse
explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.”
(Trechos extraídos do livro “Mania
de Explicação – Adriana Falcão)